Desmistificando o parto domiciliar

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Parto domiciliar. Na coluna de hoje a Doula e Educadora perinatal Adriana Vieira trouxe um texto que pretende desmistificar o parto domiciliar, mostrando com evidências, relatos, argumentos, fatos e índices que receber o bebê em casa representa para o bebê uma opção cheia de amor, sensibilidade e respeito, munindo aquela que lê de força e ânimo para começar a estudá-lo como possibilidade.  O parto é um processo natural, fisiológico e toda mulher em condições normais de saúde pode/sabe parir. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a OMS, toda mulher dever ter seu filho num local onde ela se sinta segura e confiante, com privacidade para ela e seu bebê.
“Na minha casa, eu tive liberdade para fazer o que me deu vontade: comer, beber, ouvir música, abrir a janela, tirar fotos, tomar banho, quicar na bola de pilates, usar o banquinho de cócoras, etc.
Se eu tivesse optado pelo parto hospitalar, eu jamais teria tanta liberdade, tantas opções. Não poderia comer (deveria fazer jejum), não poderia fotografar, não poderia levar objetos para auxílio durante o trabalho de parto (bola de pilates, banquinho de cócoras), etc.

É curioso como o hospital trata a gestante como “doente”, como pessoa incapaz, sem liberdade de escolha. Vejam só… Logo que a gestante chega ao hospital, já começa o tratamento “padrão”, que a despersonaliza, reduzindo-a a mais uma paciente a ser internada. Deve tirar as suas roupas e vestir o avental cirúrgico, até em uma cadeira de rodas podem lhe fazer sentar.

Na sequência, a gestante recebe um “remedinho” para ajudar com as contrações (ocitocina sintética). Então, deve ficar quietinha, aguardando pelo médico. O que é só o começo… Tudo isso vai abalando a confiança da mulher no seu poder, nas suas capacidades, no potencial do seu corpo de parir naturalmente, sem precisar de substâncias, manobras e intervenções “facilitadoras”. É a medicalização do parto, que é lamentável. Afinal, o parto é um processo natural e fisiológico, que a princípio não necessita de intervenções de terceiros.

Para não ser engolida por esse sistema industrial, cruel, impessoal, optei pelo parto domiciliar, em que eu sabia que seria respeitada, com as minhas vontades levadas em consideração. Na minha casa, eu pude escolher exatamente as pessoas que estariam presentes no parto.

No dia do parto, estavam comigo apenas a equipe (formada por pessoas conhecidas, de confiança) e a minha família (meu marido, meu primeiro filho e minha mãe). Nada de estranhos, nada de pessoas me interrompendo a toda hora, nada de gente preocupada em bater o ponto ou em conversar sobre futebol.

Aqui, só havia gente querida, do bem, com a mesma vibração que eu. Pessoas preocupadas somente com o nascimento do Arthur, para que ele chegasse rodeado de respeito e amor. Por falar nas pessoas, outro diferencial para a escolha do parto domiciliar foi a possibilidade da presença do Bernardo, meu filho mais velho. Eu o queria presente, comigo, incluído no processo do aumento da nossa família.”
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(Relato de parto por Patrícia Graccho, de Santos SP, que teve um pd após um parto normal hospitalar)
Fonte: blog “Conversando com Bernardo”
Foto: Talitha Cicon
Doula: Adriana Vieira

Atualmente, muitos casais me procuram para doulagem, ou seja, para acompanhá-los como doula no momento do parto e nascimento de seus bebês, e estão cada vez mais convictos que ter seu filho/a em casa é a melhor opção, a mais segura, mais respeitosa e mais saudável para todos envolvidos. Essa é ainda uma pequena parcela no Brasil, mas só vem aumentando a procura pelo parto domiciliar.

Para a maioria que escolhe esse tipo de parto, os hospitais são instituições que cada vez mais medicam e não dão para a gestante o tempo que ela precisa para o trabalho de parto, salvo algumas excessões. E realmente é o que vemos na prática, muitos partos marcados, sem dar tempo do bebê ficar pronto realmente, e ainda mulheres que se acham incapazes de parir, como se seu corpo não funcionasse, pois algumas médicos realmente fazem elas acreditar nisso.

Bem, com a maioria das instituições tratando do parto como doença, com muita medicação, a procura por partos domiciliares vem crescendo em todo Brasil nesses últimos dez anos, e então, o número de parto normal e natural vem aumentando nesse sentido, mesmo assim, infelizmente, nosso país tem atualmente, o maior (pior) índice de cesarianas, chegando hoje a 56% dos partos de todo o país .

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), um povo deveria ter entre 10 a 15% de cesarianas no máximo, que seriam realmente necessárias pra salvar a vida da mãe ou do bebê, mas não é isso que vemos. Vemos sim, mulheres, casais e, ou médicos, marcando cesárias eletivas (antes da mulher entrar em trabalho de parto) ao iniciar a primeira consulta do pré-natal, o que deveria, na minha opinião, ser proibido, pois não temos o direito de interferir dessa maneira tão agressiva, na vida desse bebê. Nascer antes do tempo pode ser muito perigoso para esses bebês, segundo os pediatras humanizados e atualizados. É uma questão de saúde pública atualmente.

O parto é um evento do casal, da família que está se formando, e esse deve ser um momento para se relembrar a vida toda, por isso deve ser o melhor possível. Por isso, ambos, mãe e pai devem estar de acordo com o parto que escolheram.

O parto domiciliar deve ser respeitado e acolhido, e não é proibido no Brasil, como muitos profissionais da saúde gostam de afirmar para esses casais, tentando tirar da cabeça deles essa ‘ideia’ de ter um bebê em casa.

A mulher que se prepara para o parto ativo (e faz seu pré-natal e não tem intercorrêcias durante a gestação) tem um excelente resultado no parto domiciliar, e os relatos sobre esses partos são simplesmente lindíssimos, e ficam na memória dos pais, e no imprint (memória celular) do bebê ao nascer, que perdura por toda sua vida. Ser recebido com amor, em casa, e por seus pais é realmente de extrema importância ao bebê.

Nos EUA a primeira hora após o nascimento é chamada “golden hour”, ou seja, “hora de ouro”, devida a grande importância que tem para o trio mãe-bebê-pai. É esse contato que vai determinar ao bebê as sensações de amorosidade, segurança e ainda o sucesso da amamentação futura desse bebê. Por isso, em casa (e deveria ser o procedimento hospitalar também), ao nascer, o bebê fica em contacto pele a pelo com a mãe, e não deve ser manipulado, limpado, esfregado, etc.

O parto domiciliar deve ser uma escolha do casal, assim como o nome do bebê, a escola, a educação, etc. Cada vez mais profissionais no Brasil estão se especializando em parto domiciliar, pois a procura tem crescido muito, e nada melhor então do que capacitar esses profissionais para esse tipo de parto.

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Foi pensando nisso que um grupo de parteiras, obstetrizes, médicos, enfermeiras e doulas organizaram em São Paulo, pela primeira vez, um curso de “capacitarão em parto domiciliar” (de 19 a 23 de novembro 2014) para os profissionais que já dão essa assistência em vários estados do Brasil. Estive por lá com a equipe que trabalho em Santos e vimos muitas boas novas pra essa área.

Eu, a obstetra Izilda Pupo e a enfermeira neonatal Graziela Barbosa gostamos muito do que vimos por lá.

Vários especialistas como as “midwifes” (parteiras), médicos obstetras, enfermeiras obstetras, pediatras, e doulas estiveram por lá durante cinco dias trocando experiências de partos e mostrando pesquisas baseadas em evidências, praticando e analisando vídeos. Todos que estavam por lá, palestrando ou escutando e aprendendo mais, são profissionais que acreditam que nascer em casa é a melhor opção para muitos casais e bebês. Acreditamos que nascer amorosamente gera seres humanos mais amorosos também, pois o nascimento, como somos recebidos é algo que nos marca pra vida toda.

O parto domiciliar é incentivado em muitos países da Europa, Ásia e outros continentes, pelo próprio governo, deixando assim os hospitais livres para os atendimentos necessários, como as doenças. E vimos que nesses países onde há partos em casa, o índice de cesarias é mais baixo que em outros, e não há nenhuma evidência de risco de morte ou algum comprometimento para os bebês se comparados aos partos hospitalares. Isso é muito importante de se ressaltar. Ou melhor, o contrário é verdadeiro, pois vários estudos comprovam que parir em casa é menos perigoso e tem menos riscos de infecções entre outras possíveis doenças, como mostram os textos a seguir:

1- parto domiciliar: um direito reprodutivo (clique)

2- estudo americano destaca que um pd planejado com índices baixos de intervenções médicas tem taxas similares de mortalidade intraparto e neonatal em relação aos partos hospitalares (clique)

3- Saiba mais sobre partos domicialres (clique)

4- Estudo holandês afirma que o Pd não aumenta riscos de mortalidade e morbidade neonatal (clique)

 5- Revisão de 22 estudos internacionais, publicada em 2012 conclui que não há diferençam em casos de gestantes de baixo risco, nas taxas de mortalidade do bebe antes ou depois do nascimento, se compararmos os partos domiciliares ou partos hospitalares, ambos assistidos.

Ou seja, as informações estão disponíveis para quem quiser aprender e saber mais sobre partos, seus riscos e seus benefícios, mas o que se vê é que esse evento é muito mais cultural do que realmente científico.

Países que adotaram o modelo de parto domiciliar incentivado pelo governo tem índices muitos maiores do que o nosso, onde o modelo hospitalar e intervencionista, medicamentoso, se tornou ” símbolo de cuidado e segurança”, o que é um inverdade.

Segundo do Conselho Regional de Medicina (CRM) e de acordo com o Coren, os profissionais da saúde que estão aptos a assistir ao parto domiciliar são os médicos obstetras, enfermeiras obstetras e obstetrizes. Não é indicado o parto desasistido.

O parto domiciliar, em partes é pra quem pode, não apenas pra quem quer…e vou enumerar os detalhes pra que entendam melhor:

1- o Pd (parto domiciliar) deve ser sempre assistido, ou seja, não é um parto desastistido, e precisa de uma equipe treinada e capacitada (médicos, enfermeiras obstetras, enf neonatal, pediatra, parteira, obstetriz, doula, etc)

2- a equipe deve ser composta por no mínimo 3 profissionais, para que um possa dar atendimento para a gestante, para o bebê, e outro deve manter tudo funcionando (material, etc) Pode ser: obstetra, pediatra, doula ou ainda, duas enfermeiras obsteras e doula, e também enfermeira obstetra e neonatal, e a doula, etc.

3- a gestante dever ser de baixo riscos (não deve ter intercorrências durante a gravidez) e nem doenças crônicas

4- o casal deve estar de comum acordo para um pd, e não apenas um dos cônjuges

5- há equipes que não fazem pd de gestantes que já tiveram cesárias anteriores, mas isso não é uma regra,

fica a cargo da equipe e do casal.

6- a gestante deve estar com o bebe a termo, ou seja, com mais de 37 semanas para ter um pd

7- o plano de parto do casal deve conter o plano b sempre, ou seja, caso tenha uma transferência necessária, é preciso saber para que hospital irão ser transferidos, e ter uma equipe back up já de prontidão

Adriana Vieira

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